Lembro de ter 12 anos e pensar “seria incrível fazer um mangá!”, logo após assistir ao anime “Bakuman” onde é narrada a história de dois mangakás (desenhistas/criadores de mangás). Sonhar é de graça, as pessoas dizem, e é mesmo, faz bem. Se não fossem esses sonhos de infância eu provavelmente não fugiria do padrão esperado para um jovem negro de periferia.
Hoje eu vou fugir um pouco dos jogos e falar um pouco mais de mim, da minha jornada e dar seguimento a textos que iniciei na primeira edição da newsletter. Não precisa se preocupar em voltar lá e ler tudo até aqui, na verdade, é bem melhor focar no que virá a seguir. Esse será um papo sobre persistência, sonhos e sobre abandonar e realizar eles. Espero que sirva de inspiração para você, jovem escritor, ou para você, que no exato momento está entre um sonho e outro, entre a realidade e a ficção.
Toda jornada é meio solitária, quem vive uma sabe disso. A foto acima é de uma época em que eu estava mais preocupado em escrever do que em ganhar dinheiro, e lembrar disso é até bom, pensar que houve sim uma época mais tranquila. Eu estava passeando pelo Delta do Parnaíba quando encontrei uma paisagem que lembrava a dos meus contos, imediatamente pedi que minha namorada tirasse essa foto. E foi ao ver a foto, o resultado disso, que eu tomei uma decisão bem séria: Eu precisava relançar meu primeiro livro, meu primeiro Ebook, “Contos de Anayr: O deserto”.
Vocês sabem, o nosso “primeiro” em qualquer coisa nunca é bom o suficiente, relançar primeiras coisas então… é caótico! Você visita um eu do passado que você esqueceu que existia, sentimentos, objetivos, e até lembra o motivo por trás da escrita de cada linha. E é engraçado como a cada letra eu me forçava a continuar, sempre pensando, “isso não vai me dar nenhum dinheiro, mas vai ser legal se alguém ler”. Alguém leu, e alguém achou legal. Foi o suficiente.

Sonhos são fragmentos de uma realidade perfeita, nós só precisamos desses pedacinhos para conseguir suportar o mundo real. Lutar por eles é importante, mas o que acontece quando, mesmo após anos e anos tentando, eles não se concretizam?
Cristais de Atlântida e o Despertar Arcano
Eu publiquei Contos de Anayr em 2018 e relancei uma versão revisada, com adições, em 2020, e apesar das críticas eu continuei a escrever no universo de Anayr até 2022, quase que em segredo. Pouca gente sabe, mas eu tenho pelo menos mais 4 livros de Anayr, todos em fase de revisão. Em fase de revisão desde 2019. Eu provavelmente vou esquecer deles em algum momento.
Agora vamos voltar um pouco, na verdade… vamos voltar muito. 11 anos atrás. Eu tinha 15 anos quando Cristais de Atlântida nasceu, primeiro era uma ideia que eu conversava com um ou dois amigos enquanto ia para a escola, caminhando. Depois, se tornou uma dessas histórias simples em sites como Wattpad. E logo eu percebi que era uma história grande demais para que eu escrevesse sozinho, então fui onde todo jovem ia para buscar ajuda de desconhecidos em 2013. Facebook.
Passeando pelo Facebook em 2013 eu encontrei duas amigas, uma delas ficou pouco tempo atrelada a ideia, e logo desistiu, mas a outra, a quem vou me referir apenas como Amy, detém, até hoje, 50% de todos os direitos referentes a Cristais de Atlântida e quaisquer derivados dessa obra que tenham surgido ou possam vir a surgir. E Com méritos. Se não fosse pela Amy, eu provavelmente não seria um escritor como sou hoje, ela foi uma das primeiras pessoas a acreditar em mim, e me ajudar a realizar um sonho. O sonho de ver pessoas lendo um livro meu.
Ter alguém lhe ajudando a realizar seu sonho não garante que ele será realizado, na verdade, corta pelo meio a possibilidade dele ser realizado, pois agora o seu sonho depende de duas pessoas. Infelizmente, é assim que eu vejo.
Cristais de Atlântida era sobre um jovem príncipe de um reino isolado do resto do mundo, era sobre Mihael. Alguém que se apaixona por uma jovem que chega nas praias de Atlântida sem querer, e que não pode permanecer naquele lugar, pois sua presença enfraquece os cristais que mantém viva a glória natural que cerca o reino dourado.
O que você seria capaz de fazer por quem você ama?
Quando terminamos de publicar Cristais de Atlântida em um site paralelo ao Wattpad, apagamos tudo de lá, colocamos em um documento, organizamos as ideias, reescrevemos trechos, e depois disso… bem… foi isso. A ideia está lá. Guardada, isolada, talvez morta.
Anos depois retornamos ao trabalho, eu e Amy de novo e por um momento parecia que estava tudo bem iniciarmos um novo projeto, dessa vez nomeado “Despertar Arcano” Era uma espécie de continuação de Cristais de Atlântida, nos dias de hoje, com vários pontos de vista, personagens enigmáticos, uma aventura e tanto, romances, batalhas, magia, etc.
E de repente… silêncio. Paramos de novo. E cá estou eu e lá está Amy. Ninguém mais fala disso.
Já notou? Falar de sonhos abandonados é um pesadelo, é ruim admitir que você abandonou algo pelo qual lutava todo santo dia. É chato perceber que todo o tempo empregado ali não resultou em algo relevante, algo que todos possam ver e admirar. Mas, sabe o que toda essa jornada me rendeu? Uma carreira.
Sonhos abandonados não são mais do que as pedras do caminho até os sonhos realizados. Perceber isso é difícil.
MKS: O Começo de Tudo
Lembra que lá no começo eu falei sobre um sobre ter 12 anos e pensar “seria incrível fazer um mangá!”. Isso não acabou aos 12 anos, na verdade, eu diria que é uma jornada que nunca vai de fato ter um fim.
Eu conheci o Meta e o Sirouxis quando eu tinha 14 anos, e vou chamar eles aqui dessa forma, Meta e Sirouxis, pois foi assim que criamos a MKS (Meta, Kael, Sirouxis). Eu tinha acabado de chegar em uma nova cidade, não tinha amigos, estava em uma nova escola e tinha sonhos, ambições e pouquíssima noção das coisas.
A primeira vez que vi o Meta ele estava sentado na cadeira da sala de aula, desenhando em um caderno, eu lembro de olhar para o caderno dele e perguntar “Ei, foi tu que desenhou isso?”. Ele confirma, e eu: “Sério?”. Era inacreditável. Ele desenhava como ninguém. Sirouxis e ele já eram amigos, estudaram a vida toda juntos, eu era só um novato esquisito. Mesmo assim, naquele mesmo mês, em um campeonato de Xadrez, a gente se aproximou. Pouco tempo depois eu vim com uma proposta: Vamos criar quadrinhos? O que acham?
Vocês não fazem ideia de a quantas aventuras isso levou.
Nós tentamos, tentamos, tentamos até não aguentar mais, foram pelo menos 4 anos tentando fazer algo que fosse minimamente bom, eu escrevia, Meta desenhava e Sirouxis coloria digitalmente. Foram tantas tentativas, rascunhos, ideias, heróis, aventuras, vilões e dores de cabeça, que em algum momento olhamos um para o outro e dissemos: “Ok, não deu agora, talvez a gente seja jovem demais para ver algo que não estamos vendo”.
Quando você chega aos 17-18 anos, você não tem muita noção das coisas, mesmo assim, você precisa tomar decisões que vão impactar toda a sua vida. Eu escolhi fazer física. Sirouxis escolheu fazer química bacharelado e Meta escolheu química também, mas licenciatura. Sabe quantas vezes falamos de quadrinhos ao longo da graduação? Nenhuma.
A MKS ainda existia, o grupo no whatsapp, os encontros raros, as jogatinas online… mas e os sonhos? Eu sempre me perguntava, e ai? E todos aqueles sonhos? E todas aquelas ideias? O que eu faço com isso? Será que eles pensam a mesma coisa?
Lembrem-se, Sonhos abandonados não são mais do que as pedras do caminho até os sonhos realizados.
Eu fiz roteiros de quadrinhos profissionalmente pela primeira vez em 2020 de lá até aqui foi provavelmente o braço da minha profissão que mais trabalhou e me rendeu dinheiro. Eu escrevi para brasileiros, norte americanos e asiáticos, eu passei a morar sozinho com a ajuda desses trabalhos.
Eu escrevo roteiro de HQs até hoje, inclusive, preciso ir revisar um já já. Não posso falar pelo Meta, nem pelo Sirouxis, mas eu consegui realizar esse sonho, infelizmente ele não tem um gosto tão doce quanto teria com meus amigos ao meu lado, mas se não fossem por eles, eu não teria ido tão longe.
Vale a pena persistir?
Sim, sempre vale. Se não fossem pelos meus fracassos com contos, livros, quadrinhos e cursos superiores, eu jamais estaria vivendo da escrita como vivo hoje. Não estaria escrevendo roteiros para jogos, quadrinhos e até documentários. Não teria o conforto de trabalhar de casa para o mundo e nem mesmo a facilidade para lidar com os meus demônios internos.
Errar é parte do progresso.
E, apesar de odiar essa posição meio “coach” que às vezes eu assumo na internet, eu gosto quando um texto meu consegue passar para alguém um sentimento positivo, e espero que esse tenha sido um abraço aos que tentam, tentam e tentam e acham que a vida é só tentar e nunca conseguir.
Deixa eu falar uma coisa para vocês: Eu desisti da escrita 3 vezes ao longo dos anos. A primeira vez quando entrei no ensino superior, a segunda vez quando abandonei o ensino superior e fui fazer arte de jogos, e a terceira vez quando abandonei o segundo curso superior (maldito jornalismo) para tentar viver de fazer games. Nas três vezes eu aprendi algo novo, fiz algo novo e conquistei habilidades novas.
Na primeira eu me afundei em estudos, e meu refúgio era a leitura, quando tive tempo eu coloquei todas as ideias para fora e nasceu Contos de Anayr. Na segunda vez eu entendi que artes para jogos não era minha praia, mas que eu poderia encontrar minha praia dentro daquele oceano de possibilidades, e encontrei. Na terceira eu descobri que existia uma função que ia além do roteiro de games, além do design de games, era a função de um designer de narrativas.

Se eu não tivesse desistido algumas vezes eu não teria forças para persistir tanto. Algumas pedras desse caminho podem ser pontudas, mas se você fizer uma pausa, respirar fundo, e lembrar para onde você está indo, tudo fica mais fácil.
Lembre-se: Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.
Se você entendeu a referência, comenta aí!
Até mais, exploradores!